18.1.06

Plural

(foto de Pierre Verger, in www.pierreverger.org.br)


Quantas eu fui desde que o conheci.
E tantas você me fez
desde que me alardeou e me apontou
uma nova e minha sombra,
com seus sussurros gentis
de sorriso calado.

Quantos desenhos você me pintou
com seus dedos de guaxe
em paredes invisíveis
na casa que habitou comigo.

Tantas vezes diferente eu fui e
tantas vezes igual eu quis que fosse você
você eu quis que fosse
minha roupa,
meu colar,
a manhã,
a torneira fria,
o lençol desembrulhado na cama
faltante de seu corpo.

Quantas viagens fizemos
e tanto tempo nos roubou o tempo
de distâncias de telefone e choro guardado,
escondido,
escrito por detrás da palavra,
Estou saudades.

Tantas você me fez
que me sinto hoje
viajando em você,
percorrendo seu corpo debruçado sobre o meu,
eu confusa,
eu múltipla,
sinfônica eu.

Tantas eu fui
e quantas inumeramente ainda serei,
uma só,
só uma e só sua,
de você,
você que tantas me faz.

11.1.06

Pedido



Quando você voltar,
traga para mim o azul do mar.

Os seus passos de areia ficam lá,
que eu quero para mim um andar de cimento duro.

Das flores que você ganhou, eu quero as pétalas,
guarde todas elas, todas,
eu quero examiná-las uma a uma,
a ver se são mais bonitas que as da primavera que eu lhe dei.

Quando você voltar,
Traga para mim o verde do mar.

Minha saudade, você recolha e entregue para Iemanjá,
antes de vir - não se esqueça, antes de vir -
embale-a em folhas de banana e
faça a oferenda.

Quando você voltar,
Traga para mim o escuro do mar.

E afogue suas luas cheias,
traga só as novas, só as novas, escute bem,
pois eu vou pintar estrelas
para a gente dar os seus nomes.

Quando você voltar,
Meu coração,
meu coração você traga de volta.

Preciso dele por aqui.