Pro memoria
(foto de Ana Araújo, in www.imafotogaleria.com.br)
Transito por um de meus e-mails antigos com cuidado. Uma daquelas contas que a molecada mais jovem abriu quando a internet ainda era novidade e as cartas se recusavam a virar matéria de livro amarelado. O selo não era apenas objeto de colecionador e se prestava para dar notícia de morte e de vida. A caixa de entrada é extensa. Naquela época não era prática apagar este ou aquele e-mail ou organizá-los todos sistematicamente em pastas redobradas de classes, ordens, gêneros e espécies. No ponteiro de meus dezoito ou vinte anos todos os nomes vinham seqüenciais e babélicos. Se se perdiam era porque havia uma outra página adiante e os remetentes se esquivaram da obrigatoriedade de ser insistentes. De atuar como refrão.
A linguagem era outra. Prolífera em adjetivos. A poesia escorria irremediável mesmo se o recado pudesse ser de uma linha. As despedidas se vestiam de majestade e o beijo simples era reproduzido por uma mão, na forma de arco, lançado o carinho. Não dizia até logo. Diálogos vivificados de gula. Tempo para discutir vírgulas e apetrechos da vida. Badulaques da língua e refugos do coração. Paixões sempre inéditas e o espírito em uma caixa de universo.
Agora tudo é telegráfico. A paixão quase sempre é acostumada e cotidiana. A poesia se resume a críticas à poesia dos outros e se esquecem as pessoas mais por falta de amor e tempo do que pela voracidade de querer o mundo inteiro. Não se discute mais a tenacidade de princípios, mas a temperatura do dia e da noite. Dentro de elevadores petrificados, elevadores de subir e descer gente morna.
Decido que vou voltar a usar minha antiga conta de e-mail. Assaltar minhas obrigações e pôr nas costas minha poesia antiga.
Só tenho medo, um medo sincero, de não ter tempo para ler as respostas que os meus amigos, talvez, venham a me mandar.
Transito por um de meus e-mails antigos com cuidado. Uma daquelas contas que a molecada mais jovem abriu quando a internet ainda era novidade e as cartas se recusavam a virar matéria de livro amarelado. O selo não era apenas objeto de colecionador e se prestava para dar notícia de morte e de vida. A caixa de entrada é extensa. Naquela época não era prática apagar este ou aquele e-mail ou organizá-los todos sistematicamente em pastas redobradas de classes, ordens, gêneros e espécies. No ponteiro de meus dezoito ou vinte anos todos os nomes vinham seqüenciais e babélicos. Se se perdiam era porque havia uma outra página adiante e os remetentes se esquivaram da obrigatoriedade de ser insistentes. De atuar como refrão.
A linguagem era outra. Prolífera em adjetivos. A poesia escorria irremediável mesmo se o recado pudesse ser de uma linha. As despedidas se vestiam de majestade e o beijo simples era reproduzido por uma mão, na forma de arco, lançado o carinho. Não dizia até logo. Diálogos vivificados de gula. Tempo para discutir vírgulas e apetrechos da vida. Badulaques da língua e refugos do coração. Paixões sempre inéditas e o espírito em uma caixa de universo.
Agora tudo é telegráfico. A paixão quase sempre é acostumada e cotidiana. A poesia se resume a críticas à poesia dos outros e se esquecem as pessoas mais por falta de amor e tempo do que pela voracidade de querer o mundo inteiro. Não se discute mais a tenacidade de princípios, mas a temperatura do dia e da noite. Dentro de elevadores petrificados, elevadores de subir e descer gente morna.
Decido que vou voltar a usar minha antiga conta de e-mail. Assaltar minhas obrigações e pôr nas costas minha poesia antiga.
Só tenho medo, um medo sincero, de não ter tempo para ler as respostas que os meus amigos, talvez, venham a me mandar.
1 Comments:
Adorei o texto!
E este recado, que se faz telegráfico, traz escondido os sentimentos mais sinceros, assim como aqueles dos e-mails antigos. E talvez seja aí que tenhamos que encontrar a nova graça das coisas nesse mundo de relações mornas.
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