2.8.06

Aceno

(foto de Pierre Verger, in www.pierreverger.org)



Se me despeço, é porque não sobrou bandeira que envergue
nem gesto miúdo para pensar se te devo mostrar
ou esconder.

Se parto, é porque não
tenho mais a dúvida que censura um coração exposto,
a insegurança de saber se disco, se não disco,
ou se te entorno palavras
sinceras soltas,
mornas fugidias,
ou enrededas em uma caixilha de metal frio.

Se não fico, é porque
O espelho não faz reflexo teu
mas me devolve eu mesmo,
é porque voltei a ver no mundo
a quietude desanuviada e decente
de passantes sem preocupação.

Se me não permaneço, é porque
não te vejo mais tua
no gesto que se me entregou,
não te descubro mais nua
nos vôos imaginários de um céu cadente.

Não encontro sede no arroubo de um copo empoeirado e
não escondo pão na vontade de um banquete famélico.

Só te abandono
- violento-te o suspiro -
porque não te tive,
porque te imaginei fantasiada,
desenhada com traços finos de nanquim,
e porque não pude quando você,
desperta e sem desassossego,
docemente não me quis.